Uma das boas surpresas do ano. Um dos comentadores no youtube diz de Florence: I want to have sex with her voice. Não vou a tanto mas entendo e sinto a sedução de interpretações e vozes incomuns. É quase físico, não é?
Que eu vou chegar contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar.
A ouvir na Rfm a Mafalda Veiga e a pensar (dotada que sou de uma folgada imaginação) que contra ventos e marés a vague é uma romântica temerária, qual barco à vela, pequeno e solitário a desbravar o mar, o mar de Miguel Torga que troveja e grita, o barco mal se aguenta mas ele não consegue deixar de ser quem é, de se lançar ao desconhecido, de se entregar amorosamente à vida, de rasgar o mar afoito como quem abre a alma, a entrega aos ventos e se funde com o universo.
«O que eu daria pela felicidade de estar ao teu lado na Islândia sob o grande dia imóvel e de repartir o agora como se reparte a música ou o sabor de um fruto.» Naquele preciso momento o homem estava junto dela na Islândia.
Daqui a dias o meu pai faz 70 anos. É mais um ano, mais um apenas. E o meu pai parece-me igual ao que sempre foi. Apenas as fotografias e algum olhar mais desapaixonado me revelam que o meu pai afinal também envelhece. Os cabelos brancos, as rugas mais marcadas, a sabedoria de sempre que eu muitas vezes não sei utilizar a meu favor. O meu pai faz 70 anos. Há quase 43 tinha 26, 27 quando eu nasci. Nasci um ano depois do pai do meu pai morrer, levado por uma doença insidiosamente má que lhe levou a vida e lhe deixou a lucidez até ao fim. Imagino que eu e depois a minha irmã tenhamos sido uma espécie de redenção e de renascer para quem sofreu uma perda tão grande. Adoro o meu pai. Mesmo que não partilhemos muita coisa, partilhamos este sangue, este saber que estaremos sempre lá por mais espaço que haja entre as nossas vidas. Afinal uma história igual às outras.
publicado por vague às 5.5.106 comments
Sur la marée haute je suis montée
la tête est pleine
mais le coeur n'a
pas assez.
Lhasa de Sela